A batalha das mulheres na sociedade
30/03/2014 17:22
Enquanto não tivermos políticas públicas de Tolerância ZERO não daremos uma arrancada nos índices de violência no mundo. No Brasil temos a Lei Maria da Penha que é vista com reservas pelas próprias mulheres, mas se funcionar em sua plenitude será um instrumento inibidor e educativo. Esses casos só se resolvem com enfrentamento radical da agressão: se for ato cultural a repressão resolve, se for caso de doença, tratamento neles. Se não tiver jeito, se a tara for irreversível, remédio neles.
O que ajuda também são as agredidas não deixarem de denunciar o agressor, não terem medo. As polícias estão vendo que quando não protegem as mulheres dos agressores, grande número é eliminada.
O Diário de Pernambuco (https://www.facebook.com/jornaldiariodepernambuco ) postou em sua página a foto abaixo e sua foto de capa mostra um grupo de mulheres de minissaia. Parabéns aos pernambucanos, apesar de PE ser um estado com maior número de casos de violência contra a mulher o povo pode estar acordando.
Tereza
A batalha das mulheres na sociedade
Violência contra a mulher não é fato novo. Vem dos tempos em que imperava a lei do mais forte. Contra a força física não havia argumentos. Era submeter-se. Ou submeter-se. A barbárie tampouco constitui exclusividade deste ou daquele país. Nações desenvolvidas, em desenvolvimento ou subdesenvolvidas registram o fenômeno com maior ou menor frequência. Mas, apesar da reprodução e da abrangência, a bestialidade constrange e envergonha as consciências civilizadas.
Chama a atenção, por isso, o resultado de estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) realizado em maio e junho do ano passado e divulgado agora. Depois de ouvir 3.810 pessoas em 212 municípios, o levantamento revelou fato surpreendente e assustador. A tolerância diante dos casos de brutalidade contra a mulher é elástica.
Mais da metade dos entrevistados respondeu sim à pergunta: “Se as mulheres soubessem se comportar, haveria menos estupros?”. Pior: a maioria acredita que o uso de roupas sensuais autoriza o ataque. Decote, saia curta, calça justa, segundo eles, funcionam como provocação cuja resposta não poderia ser outra senão o estupro. Em suma: a mulher é culpada pela agressão que sofre.
Outros dados também causam apreensão e repulsa. Cerca de 70% das vítimas de abuso sexual são meninas — 50,7% têm até 13 anos e 19,4% entre 14 e 17 anos. A maior parte dos algozes são pessoas muito próximas: pai, avô, tio, padrasto, vizinho. Segundo o Ipea, só 10% das violentadas procuram a polícia. As restantes, por ignorância, medo ou impotência, ficam caladas.
O silêncio acarreta duas consequências. Uma: a subnotificação. O Ipea estima que 527 mil pessoas são alvo de estupro ou tentativa de violência sexual por ano no Brasil. Sem registro, prejudicam-se as estatísticas e minimiza-se o problema. A outra: a perpetuação da violência, que se sucede e se reproduz sem freios e sem repressão.
Claro que a cultura machista responde por parte do comportamento bárbaro que atravessa os séculos. Ela está presente em filmes, novelas, letras de música, livros didáticos, relações de trabalho. Parte se deve também à impunidade. A certeza de que “em briga de marido e mulher ninguém mete a colher” reforça a tendência ao recurso da força em todas as dimensões.
A Lei Maria da Penha, avanço sem dúvida na legislação nacional, ainda engatinha. Impõe-se dar-lhe mais visibilidade para que possa funcionar como barreira aos instintos primários que se manifestam com indesejável desenvoltura. Além disso, é indispensável proceder à guinada de mentalidade. No século 21, a fábula do lobo e do cordeiro tem de ser lida como história de tempos passados — página virada sem espaço para retorno.
(Correio Braziliense, Editorial, 29/03/2014)
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